Em finais do séc. XIX, António Félix Pereira de Mendonça, nascido em 1864, mudou-se de Abrigada, Alenquer, de onde era natural, para Borba. Não foram claras as suas razões: se uns referiram que a mudança se ficou a dever à crise da filoxera que afetou fortemente as vinhas da região de Alenquer, outros afirmaram que veio para Borba para ocupar o posto de chefe dos correios/agente bancário.
Qualquer que fosse o motivo, ele veio a ter, conjuntamente com os seus filhos, um protagonismo importante na produção e comercialização dos vinhos de Borba.
Depois de instalados, António Félix Mendonça e a sua mulher, Maria Joana Conceição Bravo, tiveram 11 filhos. Terão fundado a sua Casa Comercial (e Agrícola) em 1893, e iniciado várias atividades como a venda de carvão, de sapatos e de pão. Foi também nesse momento que se dedicaram à produção e comercialização de vinho (a sua atividade principal).
Mais tarde os seus filhos Idevor Mendonça (nascido a 1903) e José Maria Mendonça (nascido a 1906) deram seguimento a esta atividade comercial e agrícola. Assim, no dia 4 de Novembro de 1950, assinaram no notário de Borba a escritura de constituição da empresa “António Mendonça Herdeiros Lda”, assumindo o capital desta firma em partes iguais. A escritura refere que “a quota de cada um dos sócios é representada pelos valores que constituem o ativo, líquido do passivo, do estabelecimento que ambos possuem e tem girado sob a firma António Mendonça Herdeiros”. O texto sugere deste modo que a atividade comercial foi mantida desde a constituição da Casa Comercial criada pelo pai de ambos. Sabe-se ainda que esta empresa teve um papel preponderante não só no comércio grossista dos vinhos da região, mas também na sua produção.
José Maria Mendonça estudou agricultura em Évora e cedo se dedicou à viticultura e ao vinho. Idevor Mendonça dedicou-se à gestão, à contabilidade e ao comércio. Com uma área de vinha própria em Lameirões (Matriz, Borba) e uvas que compravam, fundaram a Adega no rés-do-chão das suas casas de habitação na rua Marquês de Marialva 10 – 12 e 11 – 13. Eram adegas evoluídas para a época, já sem talhas, e com uma aposta em depósitos aéreos e subterrâneos, esmagador e destilação.
José Maria Mendonça foi um enólogo evoluído, fruto dos estudos que recebeu e da enorme curiosidade que o levava em frequentes viagens a Bordéus.
Cedo introduziram a casta Cabernet Sauvignon na região de Borba, lançaram o primeiro vinho espumante e procuraram produzir vinhos de qualidade. Nasceram assim, pela mão de Idevor e José Maria Mendonça, as marcas Montes Claros (vinhos tranquilos e espumantes) e Vorva (aguardentes).
Nessa época a Adega Cooperativa não tinha sido ainda constituída e a maior parte dos vinhos da região era vendida a granel a comerciantes intermediários. Estes aproveitavam a sua qualidade para ficar com parte significativa do valor acrescentado do produto. Ciente desta situação, a “António Mendonça Herdeiros Lda” começou a alterá-la com o lançamento de novas marcas e com a procura de qualidade e notoriedade.
De assinalar que a escolha da designação Montes Claros foi estratégica, tendo em conta que foi nesta localidade que se deu a conhecida batalha com o mesmo nome.
A Adega de Borba adquiriu a marca Montes Claros no final dos anos 80, sendo revitalizada e renovada já na colheita de 1986.